Insucesso Académico

Na área do comportamento humano é notória a evolução das pesquisas, revisões e teorias. No entanto, verificam-se estados de opiniões que se mantêm actuais, tais como a crença de que “comportamento gera comportamento”. Um comportamento negativo que se repita várias vezes pode fazer-nos sentir que não pode acontecer de outra forma. Neste sentido, e tendo como referência o insucesso escolar que tentamos abordar nesta reflexão, sabemos que um aluno que tenha recorrentemente insucesso numa prova e/ou exame, tem tendência a sentir-se frustrado, impotente e até desenvolver estados depressivos. Se este mesmo aluno não recorrer a estratégias de coping eficazes, e se já tiver alguns factores de risco na sua estrutura global, ele vai desenvolver um quadro negativo e depressivo que tenderá a agravar-se ao longo do tempo, se nada for feito em contrário. Estes bloqueios farão com que o aluno não consiga facilmente acreditar no eventual sucesso naquele objectivo e consequentemente, fará com que desista de tentar.

 

Sabe-se que a depressão influencia negativamente a aprendizagem. O comportamento do sujeito altera-se e o próprio passa a demonstrar desinteresse pelas tarefas académicas, uma vez que a depressão interfere nas suas funções cognitivas, como a atenção, a concentração, a memória e o raciocínio

 

Sabe-se também, que o estado depressivo do sujeito humano pode ter diversas causas e que depois de instalado, a sua recuperação poderá levar muito tempo. As consequências a nível académico podem ser enormes, correndo mesmo o risco de abandono escolar. Neste sentido, o background do aluno deverá ser bem sólido, para o ajudar a recuperar a sua auto-estima e saúde mental e emocional. Isto implica que tudo o que envolve o aluno terá de se comprometer no trabalho árduo de melhoria continua. Quer no que concerne ao apoio do docente daquela disciplina, quer no que concerne ao grupo de estudo e mesmo ao método de estudo do aluno em questão. É imprescindível que haja alguém que sirva de elo de ligação entre o esforço do aluno, o seu método e habito de estudo e o sucesso. Quer seja o próprio docente, quer seja uma figura com competência para o efeito. Após os vários insucessos do aluno, deverá ser identificada a necessidade de intervenção. O ideal seria existir, à partida, um núcleo de apoio ao aluno do ensino superior, para evitar que o próprio chegue a esta situação limite. 

 

Nós, profissionais da educação, vemos os nossos alunos a desistirem de determinadas disciplinas, e a tentarem vezes sem conta repetir exames, sempre sem sucesso. Procuramos verificar o porquê do recorrente insucesso? Procuramos implicar-nos no processo? Verificamos que quando solicitamos algo ao aluno e ele nos dá essa resposta, que também nós, fazendo parte do desenvolvimento do projecto de educação, teremos de devolver algo positivo?

 

O sucesso académico e a relação com o professor são factores muito importantes no sucesso de um aluno. Se o aluno sente que não está a ser bem sucedido no curso onde se encontra, se sente que o professor não tem uma atitude de proximidade para a possibilidade de tirar as dúvidas, se o professor não tenta organizar o processo de ensino como uma oportunidade de sucesso e desenvolvimento dos seus alunos, cria-se uma situação de desmotivação de muito distanciamento, que é responsável (não só) pelo insucesso académico.

 

 Onde e quando devemos começar a intervir?

 

Marisa Romero

In: Escola Superior de Tecnologia de Setubal - Instituto Politécnico de Setubal